Pensamentos...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

O caminho não é longo, mas o meu passo é apressado, por este curso vestido de cinzento, vazio, varrido de qualquer beleza. Lá ao longe vejo o sol que cai sobre a orla das árvores e eu prendo-me nesse momento de puro esplendor. Mais ninguém se avista, mas talvez também não conseguiriam ver o que eu hoje vejo, não com os meus olhos, não com a atenção que hoje agora lhe dou. Não saberiam apreciar este doce momento, que me enche de vida e sabedoria.



Penso em ti, na falta que me fazes e todo o meu corpo se exalta de insatisfação por não poderes estar ao meu lado. Sinto as minhas veias pulsarem por não te poder abraçar neste momento, por não poder ver o teu olhar, por não saber o que estarás a pensar neste momento.

Tu que foste alguém cujo olhar me embarcou por mil e uma aventuras, aceitando desafios, correndo riscos que não hesitei correr. E agora encontras-te distante de mim, como um castigo de quem não pode presenciar de demasiada felicidade, para que esta não caía na banalidade de um sentimento acomodado a uma relação.

Sim, hoje sei que até estes momentos sem ti são necessários, para que dentro de mim se encha um sentimento de saudade, de necessidade, de retorno. Pois sei que quando voltares sentirei novamente aquele sentimento de quem volta ao lar, ao seu ponto de abrigo, após uma longa ausência.

Mesmo assim, não te admires se eu não controlar este desejo de regressar aos teus braços, como quem procura água no meio de um deserto, como quem anda à deriva sem leme, procurando ansiosamente por terra firme.

Finalmente estava a chegar a casa, o sentimento de cansaço apoderou-se de mim, só mais uns passos e estou lá… mas para quê tanta pressa? Já sei que nada, nem ninguém me espera, naquela casa vazia, onde habitam pessoas que não me vêm como realmente eu sou. Que não se atrevem a ver o mundo como eu o vejo, que nunca arriscaram a seguir os seus instintos, os seus sonhos, que não se atreveram a viver plenamente. Quem são, senão apenas seres acorrentados ao mundo que os rodeia, que não param para terem as suas próprias ideias, que se deixam seguir pela corrente da vida.

É por isso que me fascinas. Tu que não receias caminhar ao meu lado, que me ouves com atenção, que partilhas ideias comigo e as entendes. Tu que devoras as minhas palavras e falas com a sabedoria de quem pode ainda não ter vivido muito, mas que deseja viver, por sua própria vontade, com as suas próprias ideias e não receia o incerto, o que nunca lhe foi contado, o que nunca lhe ensinaram. Procuras, tal como eu, respostas, soluções, outros pontos de vista, outras formas de ver o que nos rodeia.

Entro finalmente em casa e os seus olhares seguem-me atentamente, como quem procura respostas a perguntas que não ousam fazer. Eles sentem que sou mais do que aparento ser, eles sabem que dentro de mim há mais vida do que eles vêm. Mas para quê lhes contar? Se já tentei vezes sem conta e apenas recebi em troca olhares de quem não entende, de quem não quer entender, como se eu fosse alguém de outro mundo que não sabe o que diz.

Aprecio o silêncio…

Sim, aprecio. O silêncio não é apenas algo obscuro que muitos temem, não é algo deprimente. É algo que considero necessário, que me pode trazer tranquilidade e equilíbrio por dentro. Ouço-me. Ouço o que eu tenho para dizer a mim própria, sem mais ninguém a interferir. Ouço atentamente o que tenho para me dizer e sorrio.

Sinto-me feliz no silêncio do meu quarto. A janela aberta apenas traz-me murmúrios das pessoas que passam lá fora e uma leve brisa fresca envolve-me. Não ouço o que eles dizem, mas também não tem importância, apenas fazem sentir a sua presença, para que eu não me esqueça que lá fora o mundo continua a pulsar de vida a cada canto, em cada rua da cidade, ou num campo no lugar mais remoto possível. Assim saberei quando regressar, pois não posso prender-me eternamente em pensamentos, não poderei passar todo o meu tempo a escutar-me. Só o necessário, farei apenas o que for necessário, para que depois possa voltar ao mundo que me espera lá fora e viva, mas viva com orgulho, com alegria, com esperança nos olhos, de forma arrojada, de forma sensata, com o medo necessário que se precisa para se viver, mas com a coragem de quem vive e não tem medo de ver toda a vida ao seu redor.

E se um dia olhar à minha volta e já não encontrar o que outrora me tornou feliz, não me sentirei desolada, pois pelo menos um dia, numa altura qualquer, minha vida terá ficado marcada por alegrias constantes, por sentimentos felizes, por momentos marcantes de quem viveu a sua vida na sua plenitude, no seu máximo esplendor.

1 comentários:

Themis* disse...

Silêncio... um mero silêncio que nos faz pensar e que talvez fez com que pensasses em tudo que escreveste. Viver a vida em pleno com coragem e medo bem balanceados... queria poder dizer que o faço, mas é mentira. Também não sei se o fazes, mas se o fizeres, os meus PARABÉNS!

 
by TNB